Por
Marcos Kleber Ribeiro Felix
O Brasil, um país de dimensões continentais, sempre enfrentou desafios logísticos que impactam diretamente seu desenvolvimento econômico. Enquanto nações de grande extensão territorial, como Estados Unidos, Rússia, Índia e China, investiram massivamente em ferrovias, o Brasil se perdeu do caminho de seus pares não investindo apropriadamente em infraestruturas de transportes, notadamente as ferrovias.
A dependência brasileira do modo rodoviário, o mais barato da prateleira, encareceu o custo Brasil e limitou a competitividade de nossos produtos no mercado global. No entanto, com a edição da lei das renovações antecipadas de parcerias e do novo marco ferroviário o país passou a viver um momento de retomada dos investimentos em ferrovias, que tem permitido a materialização de alguns projetos estratégicos, que se continuados, prometem revolucionar a matriz de transportes nacional.
Neste artigo, vamos explorar todas as ferrovias em construção no Brasil em 2025, destacando seus dados básicos, que se forem concluídas até 2027, poderão gerar um efeito transformador para a logística e a economia do país.
As novas legislações diminuiram a extrema dependência nacional ao planejamento central, dando mais espaço para a participação da iniciativa privada na hercúlia tarefa brasileira de equilibrar não só a matriz de transportes, mas as curvas de oferta e demanda.
A Importância das Ferrovias para o Brasil
As ferrovias são o modo de transporte mais eficiente para o transporte de cargas em longas distâncias, como as do interior do Brasil. Elas reduzem custos logísticos, diminuem a emissão de poluentes e descongestionam as rodovias, que hoje concentram a maior parte do transporte de mercadorias no país. Além disso, as ferrovias têm o potencial de integrar regiões isoladas, impulsionando o desenvolvimento econômico e social, sem os efeitos ambientais e sociais trazidos com a disseminação de rodovias.
No entanto, o Brasil ainda está muito aquém de seu potencial ferroviário. Enquanto países como os EUA possuem mais de 250 mil quilômetros de ferrovias, o Brasil conta com pouco mais de 30 mil quilômetros no papel, sendo que apenas 12 mil quilômetros estão em plena operação.
A boa notícia é que, com a abertura do setor para autorizações e concessões, estamos vivenciando um renascimento ferroviário, impulsionado tanto pelo setor público quanto pela iniciativa privada.
A seguir, apresentamos um panorama das principais ferrovias em construção no país, destacando seus aspectos técnicos, investimentos e impactos esperados.
1. Ferrovia FIOL 2 (Caetité – Barreiras)
– Tipo de Empreendimento:
Obra Pública
– Construtor: Infra S.A.
– Extensão: 485 km
– Investimentos: R$ 2,1 bilhões
– Previsão de Conclusão: 2027
A FIOL 2 é o último exemplo de obra pública ferroviária atualmente em construção no Brasil. Idealizada no início dos anos 2000, com foco na integração logística do oeste da Bahia, com um novo porto em Ilhéus para leste, e para o oeste com a Ferrovia Norte Sul em Figueirópolis, através do que um dia poderá vir a ser a FIOL3, uma obra que ainda não começou.
A construção da ponte sobre o Rio São Francisco, uma das maiores pontes exclusivamente ferroviária da América Latina, é um marco do projeto. Quando concluída, a FIOL 2 permitirá o escoamento eficiente de grãos e minérios, conectando-se à FIOL 1 e ao futuro Porto Sul em Ilhéus.
2. FICO 1 (Mara Rosa – Água Boa)
– Tipo de Empreendimento:
Investimento Cruzado
– Construtor: Vale S.A.
– Extensão: 383 km
– Investimentos: R$ 2,73 bilhões
– Previsão de Conclusão: 2026
A FICO 1 é um exemplo de como a iniciativa privada pode contribuir para o desenvolvimento ferroviário. Financiada integralmente pela Vale, a ferrovia conectará o coração agrícola do Centro-Oeste em Água Boa à rede nacional através da Ferrovia Norte Sul em Mara Rosa, facilitando o escoamento de grãos para os portos de Itaqui ao norte e Santos ao sul.
Em tempos de extrema escassez do orçamento público, a Lei de Renovação das Parcerias criou o engenhoso mecanimos de investimentos cruzados que vem permitindo a construção desta ferrovia desde 2021. Uma forma eficiente do Estado obter recursos dos parceiros privados sem impactar o orçamento público. Além da vantagem do recebimento dos recursos pelos agentes privados, a nova legislação também permitiu que a alocação de riscos fosse repartida com o agente privado, que é quem de fato vem construindo a EF-354.
3. Transnordestina (Porto de Pecém – Eliseu Martins)
– Tipo de Empreendimento:
Concessão Patrocinada (*)
– Construtor: CSN e Infra S.A.
– Extensão: 1.206 km
– Investimentos: R$ 15 bilhões (estimado)
– Previsão de Conclusão: 2027
A Transnordestina é um dos projetos mais controversos do país. O asterisco que atribuímos à sua forma de outorga advém do fato de que a nova transnordestina não passou pelos ditames ortodoxos de licitação pública para seleção de um parceiro privado. A aplicação de recursos públicos na Transnordestina é decorrência de um compromisso contratual posto no edital de licitação da malha nordeste nos anos 1990. Por ser uma malha antieconômica, a União fez uma promessa de custear um ramal no interior que desse sentido econômico à malha Nordeste.
O tempo passou e o resultado prático foi a Nova Transnordestina, marcada por diversos contratempos na Corte de Contas. Já foram investidos mais de R$ 7 bilhões nessa ferrovia e mais R$ 8 estimamos que sejam necessários para que ela alcance seu potencial econômico.
Apesar dos desafios financeiros e burocráticos, a retomada das obras em 2019 demonstra a resiliência do projeto, que poderá viabilizar a criação de novas cadeias produtivas, notadamente no Piauí. A malha nordeste, entretanto, ainda carece de uma solução independente, visto seu abandono em cerca de 70% de sua extensão.
4. Ferrovia FIOL 1 (Caetité – Ilhéus)
– Tipo de Empreendimento:
Concessão Simples
– Construtor: Bahia Ferrovias S.A. (Bamin)
– Extensão: 537 km
– Investimentos: R$ 3,3 bilhões
– Previsão de Conclusão: 2027
A FIOL 1 é a mais recente concessão ferroviária do país, com leilão realizado em 2021. Iniciada como obra pública em 2010, foi assumida pela Bamin em 2021, que precisará investir pesado para concluir não apenas o projeto, como também o porto em seu destino final em Ilhéus. A EF-334 será crucial para o escoamento de minérios do sul da Bahia e grãos do oeste baiano, com conexão direta ao futuro Porto Sul em Ilhéus.
5. Ferrovia Vicente Vuolo (Rondonópolis – Lucas do Rio Verde)
– Tipo de Empreendimento:
Autorização por Chamamento Público
– Construtor:
Rumo S.A.
– Extensão: 730 km
– Investimentos: R$ 15 bilhões (estimado)
– Previsão de Conclusão: 2030
A
Ferrovia Vicente Vuolo representa a retomada do modelo de iniciativa privada no setor ferroviário. Com investimentos significativos, a Rumo S.A. busca melhorar a logística agrícola no Mato Grosso, um dos maiores produtores de grãos do país. Partindo do maior terminal ferroviário intermodal da América Latina em Rondonópolis, a ferrovia da Rumo pretende alcançar Cuiabá e Lucas do Rio Verde no meio norte matogrossense. Provavelmente, esta será a ferrovia mais lucrativa do Brasil, quando for concluída.
O Papel da Iniciativa Privada e das Autorizações Ferroviárias
A abertura do setor ferroviário para autorizações, a partir da Lei 14.273/2021, foi um marco importante para o desenvolvimento do modo ferroviário no Brasil. Ao permitir que empresas privadas construam e operem ferrovias sem a necessidade de licitações, o governo criou um ambiente mais atrativo para investimentos.
Projetos como a Ferrovia Vicente Vuolo mostram que a iniciativa privada está disposta a investir pesado em infraestrutura logística, desde que haja segurança jurídica e regras claras. Esse modelo não apenas acelera a construção de novas ferrovias, mas também garante maior eficiência na operação e manutenção das linhas, facilitando que as demais ferrovias do país possam ser ampliadas de forma orgânica e econômica.
As ferrovias em construção no Brasil representam um passo importante para a modernização da infraestrutura logística do país. Com investimentos públicos e privados, esses projetos têm o potencial de reduzir custos, aumentar a competitividade e integrar regiões historicamente isoladas.
No entanto, para que esse potencial seja plenamente realizado, é essencial continuar avançando na abertura do setor, simplificando processos e atraindo mais investimentos privados.
Como defensores da
abertura de mercado e das autorizações ferroviárias, acreditamos que esse é o caminho para construir um Brasil mais conectado, eficiente e competitivo.
E você, o que acha desses projetos? Deixe sua opinião participando da
enquete no nosso canal
Ousebem no Youtube!