China versus EUA: uma comparação ferroviária

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USA and China on the rails
por
Marcos Kleber Ribeiro Felix
(22 de março de 2024)

EUA versus China

Estados Unidos da América (EUA) e China, atualmente, vivem uma nova edição de Guerra Fria. Assim como aconteceu no século passado, quando EUA e a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) disputaram em cada cenário internacional (economia, esportes, ciência etc.) quem tinha o melhor modelo de desenvolvimento. Neste século, EUA e China repetem a disputa por protagonismo global.
Se a disputa da URSS com os EUA no século passado era no campo do antagonismo, provar que o socialismo era melhor que o capitalismo ou vice-versa, a disputa da China com os EUA é no campo do aperfeiçoamento. Copiar do modelo capitalista ocidental e transformar a cópia em um produto melhor do que o original. E neste quesito, em nenhum outro campo de atuação, os chineses conseguiram ser tão eficientes quanto no ferroviário.

Neste artigo, exploraremos as infraestruturas ferroviárias dos Estados Unidos e da China, que são, atualmente, as duas maiores economias do mundo. Ao nosso entender, muito em razão de seus investimentos em infraestruturas ferroviárias. Analisaremos o impacto econômico das ferrovias na história desses dois países, as tendências atuais e futuras, e como EUA e China estão moldando o futuro do transporte ferroviário no mundo. Também discutiremos os desafios que cada país enfrenta e as inovações que estão sendo implementadas para superá-los.

História do Sistema Ferroviário nos EUA

Nenhum país do mundo tem sua história tão atrelada ao desenvolvimento ferroviário como os Estados Unidos. O transporte ferroviário criado na Inglaterra passou por grandes melhorias nos EUA. Foi na américa que o telégrafo foi definitivamente adotado para proteger e regular o movimento dos trens, bem como foram padronizados os fusos horários. A estrada de ferro caminhava adiante da colonização do interior americano, para a qual abria o caminho. Também na América a regulação econômica teve seus primeiros marcos, influenciando todo o mundo, até os dias de hoje.1

Origens e Desenvolvimento Inicial

A história do sistema ferroviário nos Estados Unidos remonta ao início do século XIX. Em 1827, a primeira linha de passageiros e carga do país, a Baltimore and Ohio Railroad, foi fundada, marcando o início da vertiginosa expansão ferroviária americana.2 As primeiríssimas ferrovias americanas, iniciadas nos anos 1820 eram empreendimentos públicos, baseados na ideia de livre acesso aos trilhos, em que o governo construiria a ferrovia e quaisquer empresas poderiam acessar as linhas férreas com suas locomotivas e vagões. Entretanto, devido a escândalos de corrupção, superfaturamentos, acidentes e déficits fiscais, o modelo de livre acesso, muito comum naquela época na Europa na exploração de canais de navegação interior e estradas de rodagem pedagiadas, foi totalmente abandonado e substituído pelo modelo em que a mesma empresa que constrói e gerencia as ferrovias, também opera os trens com exclusividade. Rapidamente os pioneiros americanos perceberam que as ferrovias seriam mais eficientes se geridas pela iniciativa privada em arranjos em que a mesma empresa ficaria responsável pela expansão das linhas e operação dos trens.3 As novas companhias privadas, integradas verticalmente, rapidamente se multiplicaram e se espalharam por todo o território americano, com diferentes modelos de locomotivas e bitolas das estradas de ferro. Em 1830, a rede ferroviária americana com 86 km, só não era maior que a inglesa com 111 km.4

Magnatas Ferroviários

Alguns dos primeiros investidores americanos se tornaram rapidamente magnatas ferroviários. Eles desempenharam um papel crucial na expansão e desenvolvimento do sistema ferroviário nos EUA. Entre eles estavam Cornelius Vanderbilt, conhecido como o Commodore, que liderou a New York Central Railroad, e James J. Hill, cuja expertise em negócios ajudou na construção da próspera Great Northern Railway. Outros nomes notáveis incluem Jay e George Gould, Edward Harriman e Collis P. Huntington. 5

Imigração e Desenvolvimento dos Estados

A imigração de camponeses europeus para os EUA também teve um impacto significativo no desenvolvimento do país. Durante o século XIX, milhões de europeus emigraram para os EUA, muitos dos quais eram camponeses em busca de uma vida melhor. 6 Trazidos pelas companhias proprietárias das estradas de ferro, para servirem de colonizadores das cercanias dos caminhos de ferro, esses imigrantes se estabeleceram em vários estados, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento dessas regiões e aumento da demanda e lucratividade das ferrovias. Por exemplo, a Virgínia foi um dos primeiros estados a ser estabelecido, em grande parte devido à imigração europeia. 7

Expansão e Impacto Econômico

A expansão ferroviária nos Estados Unidos foi impulsionada pela concessão de terras no entorno das estradas de ferro pelos governos estaduais e federal às empresas ferroviárias, que as revendiam aos novos colonos. Entre 1850 e 1880, 750.000 km2 foram concedidos às empresas ferroviárias, permitindo a construção de 23.536 km de trilhos. A chegada das ferrovias transformou a economia regional, estimulando o crescimento da agricultura, pecuária e mineração.8

Primeiras Ferrovias Transcontinentais

As primeiras ferrovias transcontinentais americanas foram marcos significativos na história do transporte nos EUA. A primeira delas, a Pacific Railroad, foi construída pela Central Pacific Railroad e Union Pacific Railroad, bem como a Western Pacific Railroad, entre 1863 e 1869. Essa ferrovia ligava a rede ferroviária existente no leste dos EUA em Council Bluffs, Iowa, com a costa do Pacífico no Oakland Long Wharf na Baía de São Francisco.9 Ao todo foram construídas sete ferrovias transcontinentais diferentes, ligando as grandes cidades americanas, aos portos do Oceano Pacífico e do Oceano Atlântico.

Evolução da Malha Ferroviária Americana

A tabela a seguir mostra a vertiginosa expansão da malha ferroviária americana no século XIX:

Tabela 1: Expansão ferroviária americana no século XIX.

Década Evento Extensão da Malha (km)
1820s Início da construção das primeiras ferrovias 86
1830s Expansão das ferrovias no leste dos EUA 1.600
1840s Início da expansão para o oeste 4.800
1850s Continuação da expansão para o oeste 14.500
1860s Conclusão da primeira ferrovia transcontinental 53.000
1870s Início da expansão para o sul 93.000
1880s Continuação da expansão para o sul 163.000
1890s Expansão das ferrovias no sul e no oeste 305.000
1900s Abertura do Canal do Panamá 386.000

Fonte: Silva (1904).

Declínio das Ferrovias Americanas

O declínio das ferrovias americanas começou com a abertura do Canal do Panamá, que intensificou a competição intermodal para o transporte de cargas entre as costas leste e oeste dos Estados Unidos. Esse declínio se aprofundou após a Segunda Guerra Mundial com os massivos investimentos americanos em autoestradas, que ofereciam uma alternativa mais rápida e flexível para o transporte de mercadorias e passageiros.10 Além disso, a excessiva regulação da atividade ferroviária limitou a capacidade das ferrovias de se adaptarem a essas mudanças competitivas. A evolução do transporte aéreo a partir dos anos 1960 exacerbou ainda mais essa situação, minando qualquer possibilidade de lucro no transporte de passageiros, forçando a criação da Amtrak nos anos 1970. 11

Impacto do Staggers Rail Act

Em resposta a esses desafios, o Congresso dos EUA aprovou o Staggers Rail Act, em 1980. Esta Lei desregulamentou a indústria ferroviária americana em grande medida, substituindo a estrutura regulatória que existia desde a Lei de Comércio Interestadual de 1887. A Lei de 1980 permitiu que as ferrovias ajustassem suas tarifas e serviços para atender às necessidades dos remetentes e suas próprias exigências de receita. Como resultado, a saúde financeira da indústria ferroviária melhorou significativamente, retirando as empresas ferroviárias de sucessivos déficits para lucratividade e recuperação de investimentos.12

Amtrak e a Difícil Busca por Lucratividade

Apesar de ser uma corporação com fins lucrativos, a empresa estatal Amtrak, a principal operadora de trens de passageiros nos EUA, não tem conseguido alcançar seu objetivo teórico de obtenção de lucros. Desde o início de suas operações em 1971, a Amtrak nunca conseguiu operar sem prejuízos. Embora a Amtrak tenha sido estabelecida com o objetivo de preservar o serviço de trens de passageiros nos EUA, anteriormente executado pelas empresas privadas ferroviárias de carga, a empresa estatal de passageiros tem enfrentado desafios significativos, incluindo a necessidade de manter rotas de longa distância deficitárias ou pouco lucrativas, devido a concorrência do transporte aéreo e rodoviário.13

Estado Atual das Ferrovias Americanas

Atualmente, a rede ferroviária dos Estados Unidos é a mais extensas do mundo, com mais de 160.000 milhas (aproximadamente 257.500 km) de trilhos instalados. No início do Século XX eram mais de 400 mil km. A maioria dessa rede é de propriedade e operada por empresas de transporte de carga, enquanto a Amtrak, a principal operadora de trens de passageiros dos EUA, opera em 34,4 mil km de trilhos, quase três quartos dos quais são alugados de empresas privadas.14 Há ainda algumas ferrovias de passageiros menores de propriedade dos Estados, operando em linhas intercidades, e também a Brightline, a única ferrovia de passageiros privada americana, que opera entre Miami e Orlando, e tem planos de expansão para uma linha interestadual entre Nevada e Califórnia.15

Classificação das Empresas Ferroviárias nos Estados Unidos

As ferrovias nos Estados Unidos são classificadas em três categorias principais: Classe I, Classe II e Classe III, com base em seu tamanho e receita operacional. As ferrovias da Classe I são as maiores, com uma receita operacional anual superior a $1,032,002,71916. Existem apenas quatro empresas de transporte de carga de propriedade americana na Classe I, além da Amtrak, que é a principal operadora de trens de passageiros (Amtrak, 2021). As empresas americanas de transporte de carga da Classe I incluem a BNSF Railway, a Union Pacific Railroad, a Norfolk Southern Railway e a CSX Transportation. Além dessas, há outras empresas de capital e gestão canadenses ou mexicanas, que possuem ferrovias em território americano. Notadamente na Classe I, temos a Canadian Pacific Kansas City, a primeira a operar verticalizada desde o México até o Canadá, e a Canadian National, que opera dos EUA ao Canadá.

As ferrovias da Classe II, também conhecidas como ferrovias regionais, têm uma receita operacional anual entre $39,2 milhões e $489,9 milhões. Exemplos de ferrovias da Classe II incluem a Alabama and Gulf Coast Railway, uma entre muitas das ferrovias do grupo Genesee and Wyomming, que possui ferrovias nos EUA, Canadá e norte da Europa, e a Alaska Railroad. As ferrovias da Classe III, também conhecidas como ferrovias de curta distância, têm uma receita operacional anual inferior a $46,325,455. Existem centenas de ferrovias de curta distância operando nos Estados Unidos, cada uma atendendo a uma localidade geográfica específica. 17

Aqui está uma tabela representando algumas das principais ferrovias americanas em termos de extensão de malha:

 

História do Sistema Ferroviário na China

Se é verdade que nenhum país do mundo cresceu tanto associado ao transporte ferroviário quanto os EUA no século XIX, é também muito verdade que nenhum outro país do mundo cresceu tanto quanto a China nos últimos 50 anos, simbioticamente associado ao desenvolvimento do transporte ferroviário. Nesta seção faremos um breve resumo da história ferroviária da China de seu modesto início aos tempos atuais.

Primeiras Ferrovias de Origem Estrangeira na China

As primeiras ferrovias na China foram construídas por estrangeiros. Em 1876, a empresa britânica Jardine, Matheson and Co. construiu a primeira ferrovia na China, conhecida como Woosung Road, que ligava Xangai a Wusong. Esta ferrovia foi construída sem a aprovação do governo da dinastia Qing, que pagou 285.000 taels de prata pela ferrovia e a desmontou em outubro de 1877. Os trilhos e o material rodante foram posteriormente enviados para Taiwan. No entanto, a construção desta ferrovia marcou o início da introdução da tecnologia ferroviária na China. Apesar da resistência inicial e do sentimento xenofóbico, a importância das ferrovias para o desenvolvimento econômico e a modernização da China acabou sendo reconhecida.20,21,22

Expansão das Ferrovias Chinesas até a Era Mao

No início do século XX, a China começou a construir suas próprias ferrovias. A primeira ferrovia projetada e construída por chineses foi a Ferrovia Pequim-Zhangjiakou, construída de 1905 a 1909. Esta ferrovia marcou o início do desenvolvimento ferroviário doméstico na China. Durante as duas guerras mundiais e a guerra civil chinesa, a expansão das ferrovias na China foi interrompida. Em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, a China tinha 27.000 km de ferrovias, mas apenas cerca de 23.000 km eram utilizáveis. Até 1948, devido à guerra civil chinesa, o número de quilômetros de ferrovias utilizáveis caiu para apenas 8.000 km.23

Quando Mao Zedong e o Partido Comunista Chinês chegaram ao poder em 1949, eles herdaram um sistema ferroviário que nunca havia sido robusto e estava ainda mais degradado após os estragos causados por mais de uma década de guerra. Durante a era Mao, a China passou por uma série de transformações políticas e econômicas, e a construção de ferrovias foi uma parte importante dessas transformações. Neste período, a China expandiu significativamente sua rede ferroviária, com o comprimento total das ferrovias em operação aumentando de 8.000 km em 1945 para 36.406 km em 1965.24

Deng Xiaoping e a Evolução Ferroviária na China

Deng Xiaoping, um líder revolucionário chinês, assumiu o controle da República Popular da China (RPC) em dezembro de 1978 e manteve-se no poder até novembro de 1989. Durante seu mandato, a China passou por uma série de reformas econômicas e sociais significativas, que foram cruciais para a transformação do país. A modernização da rede ferroviária da China foi uma das reformas mais notáveis. Sob a liderança de Xiaoping, a China testemunhou vários marcos importantes na expansão de sua rede ferroviária.25
A evolução da rede ferroviária da China no século XX foi caracterizada por um crescimento importante, ainda que não tão grande quando o dos EUA. O comprimento total das ferrovias na China era de apenas 467 km em 1895, chegou a 68.656 km em 2000. Houve um grande progresso no último século, mas a taxa de crescimento foi lenta, se comparada a americana. Nos 55 anos de 1894 a 1949, a China construiu apenas 389 km de ferrovias por ano. De 1950 a 2000, sob a República Popular da China, esse número mais que dobrou para 936 km por ano.26
Em termos de crescimento econômico, a China experimentou uma rápida e impressionante transformação econômica durante o mandato de Xiaoping, quando o PIB da China expandiu a uma taxa média anual de mais de 9%. (Vogel, 2011) A reforma ferroviária havida na China nessa época foi um processo complexo que envolveu uma série de desafios e oportunidades, que resultaram em melhorias significativas na eficiência e na capacidade da rede ferroviária da China, Essas políticas de mercado livre resultaram em um crescimento econômico rápido e transformador.27
Em 1980, a participação ferroviária era de 27%, mas com o desenvolvimento da aviação civil, autoestradas e o aumento da renda per capita, em 2007, essa participação já havia caído para 6%. Frente ao declínio, o Ministério das Ferrovias da China sentiu-se profundamente ameaçado e temeu perder sua posição dominante. No início da década de 1990, tentou iniciar mudanças para introduzir ferrovias de alta velocidade na China. O Relatório de Concepção da Linha Ferroviária de Alta Velocidade Pequim–Xangai foi elaborado e discutido durante o 8º Congresso Popular, em 1993, mas foi posto de lado devido ao enorme encargo financeiro que imporia ao orçamento público. Em vez de construção de trens de alta velocidade, mais esforços foram feitos para atualizar as linhas existentes em termos de maior velocidade operacional e introdução de eletrificação. 28

Desenvolvimento da Ferrovia de Alta Velocidade na China

A ambição do Ministério das Ferrovias da China para desenvolver uma rede de trens de alta velocidade não foi extinta pela falta de capacidade fiscal. Mesmo sem uma linha do tempo definida para a introdução dos trens de alta velocidade na China, o Ministério continuou a esforçar-se para elaborar um plano exequível. Em 2004, dez anos depois da primeira tentativa, um plano de médio e longo prazo para a rede ferroviária foi elaborado, incluindo 12.000 km de linhas dedicadas a passageiros de alta velocidade e três sistemas ferroviários interurbanos de alta velocidade na área da baía de Bohai, o delta do rio Yangtze e o delta do Rio das Pérolas. No entanto, o plano não conseguiu obter aprovação na reunião executiva do Conselho de Estado. 29

Apesar disso, o Conselho de Estado concordou que o Ministério das Ferrovias poderia construir a ferrovia Pequim-Tianjin, com um comprimento de 117 km, como uma linha experimental. Isso foi considerado devido ao potencial aumento do tráfego durante os Jogos Olímpicos de Pequim de 2008, durante os quais alguns jogos de futebol seriam realizados em Tianjin. Este projeto custou 20,42 bilhões de yuan e foi financiado pelo Ministério das Ferrovias e pelos governos municipais de Pequim e Tianjin. Os trens de alta velocidade foram importados e construídos sob acordos de transferência de tecnologia com fabricantes de trem estrangeiros. Posteriormente, engenheiros chineses fabricaram os componentes internos do trem e construíram trens nacionalizados que atingiram uma velocidade operacional de 380 km/h. 30

No final de 2008, o Programa de Estímulo Econômico da China foi promulgado pelo Conselho de Estado na sequência de uma crise financeira mundial. O programa visava promover o desenvolvimento econômico através de investimentos públicos em grandes infraestruturas de transporte. 31 Desde então, os trens de alta velocidade têm se desenvolvido rapidamente, se estendendo em todas as províncias e regiões da China, com volume de 2.122.992 milhões de passageiros e de 40,99 bilhões de toneladas de cargas. 32. A velocidade e a escala com que as infraestruturas de alta velocidade ferroviária estão se expandindo na China excedem em muito as outras experiências ao redor do mundo.33

A primeira rota ferroviária de alta velocidade da China (Shenyang-Qinhuangdao) com uma velocidade de 200 km/h foi inaugurada em 2003, quase 50 anos depois da primeira linha de alta velocidade do mundo ter sido aberta no Japão em 1964. Em julho de 2013, a China tinha a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo com 9.760 km. 34 A China apresentou formalmente seu programa de ferrovias de alta velocidade, que consiste em linhas dedicadas de passageiros de 18 mil quilômetros no país no Plano de Rede Ferroviária de Médio e Longo Prazo, em 2008.35

Desenvolvimento Atual da Ferrovia de Alta Velocidade na China

De acordo com as informações mais recentes, a China não só continua a possuir a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, como tem se distanciado do restante do mundo no estoque dessa infraestrutura. Até o final de 2023, a rede ferroviária de alta velocidade da China havia atingido 45 mil quilômetros e o sistema ferroviário como um todo havia alcançado a marca de 159 mil km. Somente em 2023 foram construídos um total de 3.637 km de ferrovias, dos quais 2.776 km foram para trens de alta velocidade. Foram realizadas 3,68 bilhões de viagens de passageiros e transportadas 3,91 bilhões de toneladas métricas de carga no sistema ferroviário, estabelecendo recordes para o transporte de passageiros e cargas chineses.36
No entanto, o crescimento ferroviário chinês não ocorreu sem críticas ou sobressaltos, tendo sido marcado por escândalos de corrupção que levaram a prisão do ex-ministro dos Transportes, Liu Zhijun, em 2013. 37 A China Railway Corporation continua a operar a rede ferroviária da China. Em 2024, o investimento fixo em ativos ferroviários da China foi de 764,5 bilhões de yuan (aproximadamente 106,8 bilhões de dólares) em ativos fixos, um aumento de 7,5% em relação ao ano anterior. 38

A tabela atualizada da rede de alta velocidade no mundo é a seguinte:

Tabela 3: Redes de alta velocidade no mundo em comparação com a China

País/Região Início das operações V. Máx. Operacional (km/h) Extensão (km)
Japão 1964 320 2.764
Itália 1981 300 923
França 1981 320 2.043
Alemanha 1992 300 1.014
Espanha 1992 300 2.672
Bélgica 1993 300 35
EUA 2000 240 362
Reino Unido 2003 320 109
Coreia do Sul 2004 300 362
Taiwan (China) 2007 300 345
Holanda 2009 300 125
Turquia 2009 250 688
Europa 320, 300, 250 6.886
Américas (EUA) 240 362
Ásia (sem China e Taiwan) 320, 300 3.814
China 2003 350, 300, 250 45.000
Total no mundo 59.000

Fontes: Statista (2022), Felix (2018)

A capacidade do governo central da China de emular incentivos econômicos aos burocratas ferroviários tem sido um fator importante no avanço ferroviário significativo do país. A reforma econômica da China continua a oferecer incentivos materiais legitimados e a China Railway Corporation continua a diversificar atividades relacionadas direta ou indiretamente às ferrovias. 39

Comparação de Infraestruturas Ferroviárias da China versus EUA

Agora que acompanhamos um pouco da história dos sistemas ferroviários nos EUA e na China, vamos comparar suas infraestruturas. Verificar quais são as principais diferenças e semelhanças. A tabela a seguir expõe os principais números, em termos de extensões, densidade, cargas e pessoas transportadas, além de investimentos no ano de 2023.

Tabela 4: Comparação ferroviária entre China e EUA

China EUA
Extensão total da malha ferroviária ativa (km) em 2023 159.000 225.308
Extensão da rede ferroviária de alta velocidade (km) 45.000 735
Densidade ferroviária (m/km²) 16,6 23,8
Volume de pessoas transportadas por ferrovias em 2021 2,61 bilhões 12,2 milhões
Volume de carga ferroviária transportada em 2022 (trilhões de ton-km) 3,59 2,2
Investimento realizado em ferrovias em 2023 $106,8 bi $25 bi

Fontes: AAR (2023); China (2022); China (2023); CEIC Data (2023); Felix (2018); Luczak (2021).

A infraestrutura ferroviária dos EUA é a mais extensa do mundo, com cerca de 225.308 km de trilhos em operação, seguida cada vez mais de perto pela China, com 159 mil km. Em termos físicos, a densidade ferroviária dos Estados Unidos é muito maior que a da China, uma vez que ambos têm territórios muito próximos em termos de área, sendo a área da China somente 2,39% maior do que a dos Estados Unidos, mas malha americana é bem maior. Em termos de densidade ferroviária, os EUA tem uma densidade 43.37% maior que a da China, o que significa que, em tese, as ferrovias americanas estão muito mais capilarizadas que as chinesas, o que, paradoxalmente, não tem significado em volume de tráfego, nem de cargas nem de passageiros.

Parte da explicação desse fenômeno se deve a recentidade das ferrovias chinesas, mais de 80% delas foram construídas há menos de 50 anos. São muito mais modernas que as ferrovias americanas, em que mais de 80% delas têm mais de 100 anos de existência, tendo sido construídas com raios de curvas menores e geometrias menos otimizadas. Se em termos de transportes de carga, essa diferença de tecnologia não é tão evidente, uma vez que as ferrovias chinesas transportam  63% mais cargas que as americanas, em números de passageiros, os chineses transportam 213 vezes mais que os americanos.

Como os números evidenciam, nos EUA o transporte ferroviário de passageiros é muitíssimo menos desenvolvido que na China. Nos EUA, a Amtrak é o principal provedor de serviços de passageiros intercidades e interestaduais, na China, o governo chinês emula uma miríade de empresas estatais que competem entre si na busca de mais vantagens e subsídios do planejamento central . Os EUA têm uma rede limitada de trens de alta velocidade, com a linha Acela Express no corredor nordeste, sendo a única lucrativa, e a mais rápida administrada pela Amtrak.

Já a China fez investimentos significativos em sua infraestrutura ferroviária desde os anos 1980, saindo de 53 mil km de trilhos instalados para cerca de 159 mil km de trilhos instalados em 2023.  Os chineses possuem a maior rede de trens de alta velocidade do mundo, com mais de 45 mil quilômetros de trilhos. Um número significativamente superior a todos os demais países somados. A rede de alta velocidade da China continua a se expandir rapidamente, com planos para adicionar milhares de quilômetros de novos trilhos nos próximos anos. Todo esse investimento em trilhos de alta velocidade têm elevado significativamente à produtividade não só das ferrovias chinesas, como também de sua economia. Embora a maior parte dessas linhas de passageiros não sejam lucrativas apenas com as receitas de tickets, elas se viabilizam, muito em parte, pelas receitas acessórias capturadas pelos conglomerados verticalizados que possuem a propriedade desde as construtoras que constroem os trilhos e trens, até as imobiliárias e construtoras que urbanizam os entornos das estações.

Os sistemas ferroviários têm um grande impacto nas economias dos países. Vamos analisar como os sistemas ferroviários dos EUA e da China afetam suas respectivas economias.  Nos EUA as ferrovias desempenham um papel crucial na economia. Em 2024, as principais ferrovias dos EUA apoiaram aproximadamente 1,5 milhão de empregos, quase $274 bilhões em atividade econômica anual, aproximadamente $88 bilhões em salários e quase $33 bilhões em receitas fiscais. Além disso, as ferrovias de carga geram bilhões de dólares em receita fiscal, apoiam centenas de milhares de empregos e ajudam as empresas a produzir bens e serviços de maneira mais eficiente.40

Na China, as implicações econômicas da rede de trens de alta velocidade são significativas. A rede promove a agregação da indústria terciária e contribui para a transformação da estrutura industrial dos setores primário e secundário para o terciário, além de realizar o avanço da estrutura industrial. Além disso, a rede ferroviária de alta velocidae tem uma influência mais significativa na agregação da indústria terciária em grandes cidades e cidades de alta densidade. Com um total de 45.000 quilômetros em 2023, as ferrovias de alta velocidade podem ser encontradas em mais de 80% das cidades da China. Desde a abertura da ferrovia de alta velocidade na China em 2008, a economia das regiões ao longo da linha se desenvolveu rapidamente.41

Em 2022, a China transportou mais de 4,98 bilhões de toneladas de carga por suas ferrovias. O volume total de transporte de carga ferroviária da China em 2022 atingiu 3,59 trilhões de ton-km. Por outro lado, nos Estados Unidos, o volume de carga ferroviária transportada em 2022 foi de 2,2 trilhões de ton-km. Assim, a China transporta não apenas mais passageiros que os EUA, mas também mais cargas por ferrovia do que os americanos.

Futuro do Transporte Ferroviário de EUA e China

O que o futuro reserva para o transporte ferroviário? Vamos discutir um pouco das tendências futuras e inovações no campo do transporte ferroviário a partir dos contextos americano e chinês.

Futuro do Transporte Ferroviário nos EUA

O futuro do transporte ferroviário dos EUA está intimamente ligado ao pacote bipartidário de incentivos aos setores de infraestrutura do Governo dos EUA e ao ressurgimento do transporte ferroviário de passageiros pela iniciativa privada.

Pacote de Investimentos Governamentais e o Trem de Alta Velocidade da Califórnia

O Governo Biden anunciou investimentos de $66 bilhões em vários grandes projetos ferroviários, incluindo os primeiros projetos de trem de alta velocidade dos EUA, o maior pacote de investimentos dos últimos 50 anos, desde a criação da Amtrak. Os projetos selecionados incluem uma linha de trem de alta velocidade entre Califórnia e Nevada, a ser construída pela Brightline, que receberá $3 bilhões. O outro projeto de trem de alta velocidade da California, ligando Los Angeles a São Francisco vai receber outros $3 bilhões. As melhorias incluem também corredores ferroviários frequentemente viajados em estados como Virgínia e Carolina do Norte. Estes projetos visam reduzir emissões de gases de efeito estufa e criar dezenas de milhares de empregos sindicalizados bem remunerados. A administração Biden está construindo um pipeline de projetos ferroviários em todas as regiões do país, visando conectar mais cidades à rede ferroviária nacional e promover o desenvolvimento econômico. Esses investimentos fazem parte da “Agenda de Investimento na América” do Presidente Biden, que busca reconstruir a infraestrutura dos EUA e posicionar o país para vencer a competição global do século 21. Em 2021, o presidente Biden já havia anunciado o Plano de Empregos Americanos, que propõe um investimento de $80 bilhões em ferrovias ao longo de 8 anos. Estes investimento tem como objetivo abordar reparos, modernizar as rotas existentes e expandir o serviço de passageiros em todo o país.42

Um dos principais beneficiários deste pacote de investimentos é o projeto de trem de alta velocidade da Califórnia. Este projeto é um marco importante para o transporte ferroviário nos EUA, pois representa a primeira vez que um trem de alta velocidade de classe mundial está sendo construído no país. O que é uma clara tentativa de resposta aos avanços chineses, ainda que muito tímida se comparada a escala e escopo de investimentos da China.

Ascensão do Transporte Ferroviário de Passageiros Privado e o Trem da Brightline em Nevada

A Brightline, uma empresa com sede na Flórida, está mudando o transporte ferroviário de passageiros nos EUA. A Brightline é a primeira operadora ferroviária de passageiros privada dos EUA em mais de um século. Iniciou suas operações na Flórida em 2018 e tem planos para expandir seus serviços para Las Vegas e Los Angeles no futuro. Um dos projetos mais ambiciosos da Brightline é a construção de uma nova linha de alta velocidade entre Las Vegas, Nevada, e o sul da Califórnia. A Brightline espera que os trens possam atingir velocidades de até 200 mph, levando os passageiros de Las Vegas a Rancho Cucamonga em cerca de 2 horas e 10 minutos, duas vezes mais rápido do que o tempo médio de viagem de carro.43, 44

Futuro do Transporte Ferroviário na China

A China tem feito investimentos significativos em sua infraestrutura ferroviária nas últimas cinco décadas. A China possui a maior rede de trens de alta velocidade do mundo, com mais de 45.000 quilômetros em 2021 e continua a se expandir rapidamente, com planos para adicionar milhares de quilômetros de novos trilhos nos próximos anos. De acordo com um plano divulgado pelo China State Railway Group, a empresa estatal de ferrovias da China, o país planeja expandir a rede para cerca de 200.000 km até o final de 2035, incluindo cerca de 70.000 km de linhas de alta velocidade.Isso representa um aumento de 33,3% na rede ferroviária atual da China. Em termos de comparação, significa dizer que a China pretende construir nos próximos dez anos mais do que tudo que o Brasil já construiu de ferrovias em toda a sua história ferroviária. 45

A China está na vanguarda das inovações tecnológicas no transporte ferroviário. Em 2020, a CRRC, uma gigante da engenharia ferroviária de propriedade estatal na China, apresentou o protótipo de um trem elétrico de alta velocidade para rotas internacionais capaz de operar a velocidades de até 400 km/h. Este trem, que é capaz de operar em temperaturas que variam entre -50°C e +50°C, apresenta conjuntos de rodas de troca de bitola recém-desenvolvidos que permitirão que ele funcione diretamente na Rússia, Mongólia e Cazaquistão, que usam uma bitola de trilho mais larga do que o padrão de 1.435 mm da China. O protótipo é esperado para atingir 385 mph (620 km/h), embora os desenvolvedores esperem eventualmente aumentar essa velocidade para 497 mph (800 km/h). Além disso, a China está desenvolvendo outras inovações tecnológicas no transporte ferroviário, como sistemas de frenagem regenerativa que capturam e reutilizam energia, materiais leves para a construção de trens e o uso de fontes de energia renováveis para alimentar trens, como energia solar ou eólica.46, 47

Semelhanças entre EUA e China

No século XIX, as ferrovias dos EUA adotaram uma estratégia de captura de valor da terra que era fundamental para seu crescimento e desenvolvimento. As empresas ferroviárias compravam grandes extensões de terras devolutas a preços baixos, dos governos estaduais e do governo federal, e depois revendiam ou alugavam essas terras a preços mais altos aos colonos europeus, ainda durante a construção da linha ou depois que a ferrovia estava em operação. Isso não apenas proporcionava uma fonte de receita para as ferrovias, mas também incentivava o assentamento e o desenvolvimento ao longo das rotas ferroviárias.48 Além disso, as ferrovias muitas vezes se tornavam sócias em várias cadeias logísticas dos produtos que transportavam, aumentando ainda mais seu valor e lucratividade. 49

As ferrovias atuais na China adotaram uma estratégia semelhante às americanas do século XIX. Construídas em sociedade com municipalidades, províncias e com o governo chinês, essas ferrovias compram grandes extensões de terras estatais e depois revendem ou alugam essa terra a preços mais altos dutante o processo de construção da linha ou depois que a ferrovia está em operação. 50 Isso não apenas fornece uma fonte de receita para as ferrovias, mas também incentiva o desenvolvimento ao longo das rotas ferroviárias.51

Além disso, assim como as ferrovias americanas do século XIX, as ferrovias chinesas modernas também são sócias em várias cadeias logísticas dos produtos que transportam . Isso inclui desde minerais e matérias-primas até produtos manufaturados e bens de consumo. Ao se tornarem sócias nessas cadeias logísticas, as ferrovias chinesas podem capturar ainda mais valor e aumentar sua lucratividade. 52

Conclusões:

Vimos que o transporte ferroviário tem sido uma força motriz para o desenvolvimento econômico e a conectividade dos EUA e da China. Os trilhos ajudaram a moldar a economia de muitos países, nenhum outro tanto quanto os EUA no século XIX, com o surgimento da tecnologia das locomotivas a vapor, e nenhum outro tanto quanto a China, com o advento dos trens de alta velocidade, que se tornaram um símbolo de progresso e eficiência. Ao longo de nossa discussão, abordamos vários aspectos das infraestruturas ferroviárias dos EUA e da China, bem como suas implicações econômicas e futuras tendências.

As ferrovias desempenham um papel crucial na economia dos EUA, apoiando empregos, atividade econômica e gerando receita fiscal. O governo Biden anunciou um investimento significativo no transporte ferroviário dos EUA, incluindo o Plano de Empregos Americanos. A Brightline está mudando o transporte ferroviário de passageiros nos EUA, sendo a primeira operadora ferroviária de passageiros privada dos EUA em mais de um século.

A China possui a maior rede de trens de alta velocidade do mundo, com 45 mil km, com planos para adicionar milhares de quilômetros de novos trilhos nos próximos anos. A China está na vanguarda das inovações tecnológicas no transporte ferroviário, com suas empresas apresentando um protótipo de trem elétrico de alta velocidade para rotas internacionais, tendo já há muito superado os EUA em termos de transporte de cargas e de passageiros.

A China foi capaz de construir a maior rede de alta velocidade do mundo devido a um forte apoio governamental, investimentos significativos em infraestrutura, copiando uma estratégia de verticalização e captura do valor da terra pelas empresas ferroviárias, que foi inicialmente desenvolvido pelos americanos na formação de seu território na conquista do oeste americano. Todo esse investimento também só foi possível em função de possuir uma população gigantesca densamente distribuída no território, o que torna o transporte ferroviário uma opção atraente. Além disso, a China tem aspirações internacionais com a iniciativa One Belt One Road, que visa melhorar a conectividade regional através de uma rede de infraestruturas de transporte, incluindo ferrovias.

Em menos de duas décadas após a invenção do negócio ferroviário como um empreendimento lucrativo pelos ingleses, os americanos foram capazes de superar os britânicos em todas as dimensões ferroviárias e mantiveram o protagonismo inconteste por mais de um século. Agora, quase 200 anos depois dessa invenção, os chineses são o primeiro país do mundo a contestar a dominância ferroviária dos EUA, já os tendo superados de longe no transportes de mercadorias e de passageiros. Ironicamente, com as mesmas estratégias empresarias dos magnatas ferroviários americanos do Século XIX.

Em conclusão, enquanto os EUA estão recomeçando a investir mais em sua infraestrutura ferroviária após um hiato de décadas, a China continua a expandir e inovar sua já impressionante rede de trens de alta velocidade. Ambos os países têm muito a ganhar com o investimento em infraestrutura ferroviária, desde o estímulo ao crescimento econômico até a redução das emissões de carbono. No entanto, também existem desafios significativos a serem superados, incluindo o custo de construção e manutenção de tais redes, a necessidade de tecnologia avançada e a obtenção de apoio público e político para tais projetos. É claro que o futuro do transporte ferroviário será moldado por uma combinação desses fatores, bem como pelas decisões tomadas por governos e empresas nos próximos anos.

Nota do Autor:

Este texto foi inspirado das seções 3.2 e 3.3 de Felix (2018)

Como citar este texto?

Felix, M.K.R. (2024). China versus EUA: uma Comparação Ferroviária. Ousebem.

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