Análise Bibliométrica por meio do H-Index – Aplicação à busca por Referências sobre Financiamento do Sistema Ferroviário

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por

Nathane Eva Santos Peixoto

Marcos Kleber Ribeiro Felix

Carlos Henrique Rocha

Universidade de Brasília

O que é uma análise bibliométrica?

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo identificar os principais temas tratados na literatura científica, tendências, lacunas a respeito do financiamento do transporte ferroviário. O estudo identifica os principais autores, obras e periódicos da temática por meio de um estudo bibliométrico, exploratório e descritivo, que analisa a evolução da pesquisa internacional com utilização do enfoque meta-analítico e ênfase no h-index. Para alcançar o objetivo proposto foi utilizada a base de dados do Web of Science, restrito ao período entre 2001 e 2016. A busca a partir de palavras-chave identificou incialmente 568 artigos publicados em periódicos e congressos internacionais indexados. Dentre os principais temas trabalhados na literatura sobre esta temática destacam-se: a previsão imprecisa da demanda e incoerência da execução orçamentária prejudicam a execução dos projetos ferroviários, a presença de parcerias-público-privadas e, abordagens mais recentes, como a captura da valoração da terra para auxiliar o financiamento ferroviário.

 

ABSTRACT

This research aims to identify the main topics discussed in the scientific literature, trends, gaps about financing rail transportation. The study identifies the main authors, works and papers of the subject matter through an bibliometric study, exploratory and descriptive, which analyzes a development of international research with meta-analytical focus and emphasis on h-index. To achieve the proposed goal was used Web of Science database, restricted to the period between 2001 and 2016. The search from keywords identified initially 568 articles published in international journals and indexed congresses. Among the main studies in the literature it was highlighted: an imprecise forecast of demand and incoherence of budget prejudice execution of railway projects, a presence of public-private partnerships and, more recent approaches, such as land value capture to support rail financing.

 

  1. INTRODUÇÃO

A Bibliometria surgiu no século XIX em razão da necessidade de estudar e avaliar a produção científica, sendo a utilização de indicadores quantitativos o ponto central desta técnica (Araújo, 2006). Sendo assim, essa técnica ajuda a identificar o estágio de desenvolvimento de determinado campo do conhecimento (Kneipp et al.,2011). Entre os principais indicadores bibliométricos quantitativos, tem-se o h-index, o fi (fator de impacto) e a quantidade de citações. Ademais, no Brasil, utiliza-se também a classificação Qualis.

O h-index ou índice-h foi criado por Hirch em 2005 e é uma proposta para quantificar a produtividade e o impacto dos pesquisadores de acordo com os seus artigos mais citados. Corresponde ao número de artigos de um determinado autor com, pelo menos, o mesmo número de citações, ou seja, se o h-index de um pesquisador for 21, quer dizer que, da totalidade de seus artigos publicados, esse autor, possui ao menos 21 artigos com pelo menos 21 citações em cada um deles (Costas et al., 2007, 193, apud Lopes et al., 2012). Por outro lado, o fator de impacto avalia a notoriedade das revistas, que é calculada pela frequência de citações dos seus artigos. Na prática, o fator de impacto (FI) contabiliza as citações efetuadas, em um dado ano, a documentos publicados nos dois anos anteriores (Lopes et al., 2012).

Enquanto a classificação Qualis dos periódicos científicos indica os veículos de maior relevância em cada área do conhecimento, tanto para os pesquisadores quanto para as agências financiadoras de pesquisa. Segundo a Capes (apud, Monteiro e Frigeri, 2014) um periódico de qualidade é aquele que possui reconhecimento científico em sua área, ampla circulação, indexação em bases de dados importantes e que publica artigos de diferentes instituições e áreas geográficas. De acordo com este critério os periódicos são classificados em: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C.

Embora exista outras ferramentas que forneça trabalhos com base nas citações (Scopus e o Google Scholar Metrics), o Web of ScienceTM (WoS) além de utilizar indicadores, também realiza a análise bibliométrica sem a necessidade de utilizar outros softwares. O WoS é multidisciplinar indexa mais de 12.700 periódicos, nas diferentes áreas científicas, contendo informação desde início do século XX e é atualizada semanalmente (Lopes et al., 2012).

O enfoque meta analítico é uma modalidade de revisão sistemática da literatura (Loureiro et al., 2016) que utiliza o fator de impacto como critério para escolha do material de referência (Mariano et al., 2011). Dentro do método meta-analítico pode-se utilizar a revisão narrativa, que consiste na identificação, localização, compilação, análise e interpretação do conhecimento de diferentes fontes, tais como livros, artigos, relatórios, dissertações e teses em que os argumentos são apresentados pelo pesquisador em estrutura narrativa (Loureiro et al., 2016). Assim, este artigo objetiva identificar os principais temas tratados na literatura científica, tendências, lacunas a respeito do financiamento do transporte ferroviário no período de 1991 a 2016 e, assim, contribuir para a sistematização da literatura nesta temática.

  1. MÉTODO DE PESQUISA

O método meta-analítico adotado por este artigo foi realizado em seis etapas de acordo com modelos adaptados de Loureiro et al. (2016) e Zary et al. (2016). A etapa 1 definiu definição o problema de pesquisa de forma clara, objetiva e concisa. A etapa 2 definiu a estratégia de pesquisa, mediante a escolha das bases de dados, período de pesquisa, termos de busca e idiomas. A etapa 3 definiu os critérios de inclusão e exclusão dos artigos. A etapa 4 selecionou dos trabalhos, conforme a estratégia de pesquisa definida na etapa 2 e critérios decididos na etapa 3. A etapa 5 analisou os trabalhos selecionados. Por último a etapa 6 apresentou os resultados encontrados indicando os principais autores, periódicos e bases de dados.

Na etapa 1, o problema de pesquisa em questão é: quais são os principais temas abordados na literatura científica a respeito do transporte ferroviário? Na etapa 2, definiu a janela temporal que ficou restrita entre 1991 e 2016. O marco temporal inicial foi escolhido por ser o ano da edição da Diretiva no 91/440, da Comissão Europeia, que introduziu uma sucessão de medidas destinadas a abrir o mercado ferroviário europeu à concorrência (Nash et al., 2011). Como ferramenta de busca, adotou-se a base do WoS, em razão de sua abrangência e robustez acadêmica. Esse motor de busca utiliza o caractere * como substituto de todos os demais caracteres em um termo de busca, adotou-se os termos financ* e rail* como termos de busca da pesquisa. Assim, estão implícitas na pesquisa, diversas combinações de pares de palavras-chaves dos conjuntos (finance, financing, financial, financed, …) e (rail, railroad, railway, …).

Além disso, o filtro de escopo foi o mais genérico possível, não limitado apenas ao título, mas sim ao tópico, ou seja, um artigo é selecionado caso verse sobre a temática ao longo do texto e não necessariamente no título.

Ao utilizar os critérios acima mencionados foram encontrados 825 que categorizados em 124 áreas do WoS. Ressalva-se que, cada artigo pode pertencer a mais de uma área. As áreas com maior número de ocorrências, Transportation (192), Transportation Science Tecnology (191), Engireering Civil (190), Economics (148) e Management (62) são as áreas com maior pertinência temática com a pesquisa e a porção caudal mais afastada, no eixo horizontal, representam os artigos de menor aderência ao tema desta pesquisa. A análise estatística da frequência acumulada, indicou que 95,2% das áreas do WoS possuiam 3 ou mais ocorrências. Assim, na etapa 3, todos as áreas com menos de 2 ocorrências foram excluídas da amostragem. Foram, portanto, excluídas as seguintes áreas: archaeology, biotechnology applied microbiology, critical care medicine, cultural studies, engineering aerospace, engineering marine, ergonomics, food science technology, forestry, geography physical, information science library science, materials science paper wood, metallurgy metallurgical engineering, mining mineral processing, nuclear science technology, oceanography, orthopedics, psychiatry, radiology nuclear medicine medical imaging, remote sensing, soil science, statistics probability, thermodynamics, veterinary sciences, zoology, agricultural engineering, agriculture dairy animal science, agriculture multidisciplinary, agronomy, art, asian studies, biodiversity conservation, biology, clinical neurology, ecology, education scientific disciplines, engineering ocean, ethics, film radio television, health care sciences services, limnology, literature british isles, mathematics, medicine general internal, medicine legal, nutrition dietetics, oncology, optics, paleontology, parasitology, physics multidisciplinary, psychology clinical, religion, respiratory system, robotics, sport sciences, surgery, e toxicology.

Como resultado dessa estratégia de exclusão, restaram selecionados 762 registros. A ordem de ocorrências das 10 primeiras áreas do WoS não foi alterada, de maneira que nessa amostra a frequência acumulada das 10 primeiras áreas é de 63,19% (Tabela 1).

 

Tabela 1:  As 10 áreas mais relevantes para refinamento da pesquisa
Posição Áreas Web of Science Ocorrências F % F Acumulada %
1 Transportation 191 12,00 12,00
2 Transportation Science Technology 191 12,00 23,99
3 Engineering civil 189 11,87 35,87
4 Economics 145 9,11 44,97
5 Management 62 3,89 48,87
6 Engineering Mechanical 57 3,58 52,45
7 History 48 3,02 55,46
8 History of Social Sciences 45 2,83 58,29
9 Business 40 2,51 60,80
10 Business Finance 38 2,39 63,19
Total 1006 63,19

 

Por último, foram selecionados apenas os artigos que pertenciam a estas 10 primeiras áreas do WoS. Ao final restaram 568 registros, que acumulam 2.027 citações. Essa amostra tem média de citações por item de 3,57 e h-index 21.

  1. ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

Nesta seção, são apresentados e discutidos os dados quantitativos da análise bibliométrica, ou seja, a análise dos artigos encontrados e filtrados na etapa anterior deste artigo. A Figura 1 apresenta a distribuição, de janeiro de 2001 a novembro de 2016, dos 568 registros científicos publicados em periódicos internacionais catalogados no WoS, sobre a temática correlata ao financiamento do modo ferroviário. Com base nesses dados é possível observar uma linha de tendência crescente de publicações. Os primeiros 10 anos contêm 20% da produção, enquanto os últimos 16 anos, 80% da produção científica.

Figura 1

Figura 1: Produção anual sobre financiamento ferroviário registrados na base WoS

Também foi realizada uma pesquisa acerca dos países que mais desenvolveram pesquisas sobre esta temática. Entre os 56 países que retornaram resultados, 21 deles concentram 89% das publicações. Sendo que apenas três: Estados Unidos, Inglaterra e China representam 51% da produção científica no tema. Na Tabela 2 também é possível observar que 2/3 dos 21 países que mais publicaram também estão entre os 21 países com melhor infraestrutura ferroviária segundo o WEF (2016). Quando se compara a extensão da malha ferroviária, segundo o ranking da CIA (2016), observa-se que a exceção de Rússia (3º), Índia (5º), Argentina (8º), Brasil (11º), Ucrânia (13º), África do Sul (14º), México (18º), Cazaquistão (19º) e Turquia (20º), 57% dos países colocados entre as 21 primeiras posições desse ranking também são os que mais pesquisam na temática financiamento ferroviário.

Tabela 2: Distribuição de publicações pelos 21 países que mais publicaram
Ranking

Publicações

País/Território Publicações F Acum (%) Ranking

Qualidade infraestrutura ferroviária

Ranking

Extensão da rede

(km)

Estados Unidos 125 22 15º 1º (293.564)
Inglaterra 87 37
China 78 51 16º 2º (191.270)
Austrália 26 56 34º 7º (36.968)
Espanha 23 60 17º (16.102)
França 17 63 10º (29.640)
Alemanha 17 66 6º(43.468)
Holanda 16 68 56º (3.223)
Canadá 15 71 19º 4º(77.932)
10º Suíça 13 73 33º (5.652)
11º Suécia 12 76 26º 21º (11.915)
12º Itália 11 77 32º 15º (20.182)
13º República Tcheca 10 79 22º 23º(9.622)
14º Japão 9 81 12º (27.155)
15º Portugal 9 82 25º 58º (3.075)
16º Taiwan 8 84 11º 78º (1.597)
17º Dinamarca 7 85 20º 66º (2.414)
18º Grécia 7 86 59º 64º (2.548)
19º Irlanda do Norte 6 87
20º Polônia 6 88 51º 16º(19.837)
21º Eslováquia 6 89 21º 49º (3.624)
Total 508

Note-se que na Tabela 2 não foram apresentados os dados de qualidade e extensão da rede ferroviária da Inglaterra e Irlanda do Norte, pois essas informações estão agregadas nos dados do Reino Unido, que contém ainda País de Gales e Escócia, segundo os dados do WEF (2016) e CIA (2016).

 

Depois da análise dos países que mais publicam, verificou-se quais são os periódicos com maior número de publicações (Tabela 3). Observa-se que o periódico Transportation Research Record ocupa a primeira posição com maior quantidade de publicações no tema e com 32 publicações a mais do que o segundo periódico. Contudo, a partir da revista Transport Policy, não existe elevada discrepância entre o número de publicações dos demais periódicos.

Tabela 3: Periódicos mais relevantes e seus índices bibliométricos
Ranking Periódicos Publicações Fator de Impacto H Index Qualis* Qualis**
1 Transportation Research Record 48 0,522 65 B1
2 Transport Policy 16 1,522 56
3 Proceedings of The Institution of Civil Engineers Transport 15 0,209 13
4 Transport Reviews 13 2,452 46
5 Transportation 11 1,545 52
6 Transportation Research Part A Policy and Practice 10 1,994 82 A1 A2
7 Transportation Quarterly 9
8 Research in Transportation Economics 9 0,750 19 B2
9 Procedia Social And Behavioral Sciences 9 0,166 22
10 Business history 9
11 Journal of Economic History 9 0,742 44
12 Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers Part F: Journal of Rail and Rapid Transit 9 0,9 30
13 Road and Rail Infrastructure 8
14 Journal of Transport Geography 8 2,09 58 A1
15 Proceedings of the Institution of Civil Engineers Civil Engineering 8 14

(*) Classificação Qualis (2014) na categoria Engenharias I. (**) Classificação Qualis (2014) na categoria Economia.

 

Em seguida, foram analisadas quais as doze universidades que mais publicam na temática, bem como o país a que pertencem. Observa-se que a China possui 4 das 12 universidades no ranking, enquanto os EUA possuem 3 e Inglaterra, Austrália, Portugal, Holanda e Grécia possuem cada apenas uma universidade conforme se observa na Tabela 4.

 

Tabela 4: As doze universidades que mais publicam
Universidade Nº de Publicações País
Beijing Jiaotong University 20 China
University of California 15 EUA
Hong Kong University of Science and Technology 9 China
Queensland University Technology 7 Austrália
Harvard University 6 EUA
Delft University of Technology 5 Holanda
Harbin Institute of Technology 5 China
National Technical University of Athens 5 Grécia
Purdue University 5 EUA
University of Lisbon 5 Portugal
University of Oxford 5 Inglaterra
Wuhan University of Technology 5 China

Para identificar os artigos mais influentes na temática foi calculado o índice-h dos 568 artigos selecionados, em que foi encontrado índice-h 21. Isso significa que foram identificadas 21 publicações que receberam 21 ou mais citações, conforme se observa na Tabela 5.

 

Tabela 5:  As publicações que representam o índice-h da pesquisa

Posição Nº de Citações Autores e Ano Posição Nº de Citações Autores e Ano
1 121 Flyvbjerg et al.  (2003) 12 32 Tsamboulas (2007)
2 87 Cervero e Landis (1997) 13 32 Phang (2007)
3 71 Forkenbrock (2001) 14 31 Flyvbjerg (2007)
4 66 Flyvbjerg et al.  (2006) 15 28 Giesecke et al. (2011)
5 47 Cervero e Kang (2011) 16 27 Wachs (1993)
6 46 Cantos et al. (1999) 17 26 Litman (2007)
7 35 Rus e Nombela (2007) 18 25 Jiang et al. (2009)
8 35 Kasarda e Rondinelli (1998) 19 24 Knowles (2012)
9 35 Edwards e Ogilvie (1996) 20 24 Cervero e Duncan (2002)
10 33 Smith e Gihring (2006) 21 22 Benmelech (2009)
11 33 Cantos e Maudos (2001)

 

Com base na lista da tabela 5, pode-se analisar com maior acurácia quem são os autores desses artigos. A Tabela 6 apresenta, para cada autor, seu respectivo índice-h, o total de publicações, o total de publicações na temática desta pesquisa, a universidade a que estavam vinculados quando das publicações e o país que sedia essas universidades (Tabela 6).

 

Tabela 6: Autores mais relevantes
Autores H-index Total de publicações Publicações no tema Universidade País
Cervero, R. 32 84 3 University of California EUA
Edwards, J. 28 131 1 University of Cambridge Inglaterra
Longstaff, F.A. 28 60 1 University of California EUA
Kasarda, J.D. 23 67 1 University of North Carolina EUA
Flyvbjerg, B. 18 52 4 Aalborg University Dinamarca
Rondinelli, D.A. 15 97 1 University of North Carolina EUA
Maudos, J. 14 27 1 University of Valencia Espanha
Holm, M.K.S. 13 22 2 Aalborg University Dinamarca
Giesecke, K. 11 28 1 University of California EUA
Schaefer, S. 11 18 1 London Business School Inglaterra
Benmelech, E. 11 18 1 Harvard University2 EUA
Yao, S.J. 10 33 1 University of Nottingham; Xi’an Jiaotong University Inglaterra; China
Litman, T. 10 32 1 Victoria Transport Policy Institute Canada
Ogilvie, S. 10 31 1 University of Cambridge Inglaterra
Strebulaev, I. 10 17 1 Stanford University EUA
Pastor, J.M. 9 26 1 Universidad de Valencia Espanha
Tsamboulas, D.A. 8 38 4 National Technical University of Athens Grécia
Phang, S.Y. 8 18 1 Singapore Management University Cingapura
Wachs, M. 8 15 2 University of California EUA
Duncan, M. 7 41 1
Knowles, R.D. 7 29 2 University of Salford Inglaterra
Jiang, C.X. 7 9 1 Middlesex University Inglaterra
Forkenbrock, D.J. 7 43 1 University of Iowa EUA
Buhl, S.L. 7 11 2 Aalborg University Dinamarca
Serrano, L. 7 14 1 Universidad de Valencia Espanha
Cantos, P. 6 14 2 Universidad de Valencia Espanha

Continuação da Tabela 6: Autores mais relevantes

Autores H-index Total de publicações Publicações no tema Universidade País
Rus, G. 6 8 1 Universidad de Las Palmas de Gran Canaria Espanha
Nombela, G. 4 8 1 Universidad de Las Palmas de Gran Canaria Espanha
Gihring, T.A. 3 7 1
Landis, J. 2 23 1 University of California EUA
Kang, C.D.  2 2 1 University of Seoul Coreia do Sul
Zhang, Z.Y. 1 2 1 Chongqing University China
Smith, J.J. 1 1 1

 

Por meio da Tabela 6, é possível perceber que a Universidade da Califórnia é vinculada a cinco dos autores mais relevantes, enquanto a universidade dinamarquesa de Aalborg é vinculada a três dos autores mais relevantes. Praticamente, 33%dos autores mais relevantes está vinculado a universidades americanas, 20% a universidades inglesas e 16% a universidades espanholas.

 

  1. DISCUSSÕES

Segundo Lopes et al. (2012), o h-index é utilizado para mensurar a produtividade e o impacto da produção acadêmica dos pesquisadores e das revistas. Também é utilizado pelo WoS para selecionar as publicações mais relevantes em determinado assunto. De acordo com a sessão da análise bibliométrica foi encontrado h-index 21 na pesquisa desenvolvida por este artigo. Dada a relevância e representatividade deste conjunto de artigos esta sessão irá realizar uma breve análise dos principais assuntos abordados por esses trabalhos e que contribuem para o desenvolvimento do assunto financiamento ferroviário.

 

Quando analisado o conjunto de 568 artigos, Flyvbjerg aparecia com quatro artigos publicados e foi considerado o segundo autor com maior número de publicações, atrás apenas de Hong com nove publicações. Porém o último, não possui nenhum artigo entre os 21 mais citados, razão pela qual não apareceu na Tabela 6. Isso sugere que embora Hong pesquise sobre financiamento ferroviário, o maior impacto de suas publicações deve estar em outra temática. A Tabela 7, demonstra que Flyvbjerg ser um pesquisador de impacto para a temática. Destaque para o artigo Flyvbjerg et al. (2003), considerado o trabalho com maior número de citações (120).

 

Tabela 7: Artigos publicados por Flyvbjerg contidos no H-index da pesquisa.
Autor(es) e Ano Título Nº Citações
Flyvbjerg et al. (2003) How common and how large are cost overruns in transport infrastructure projects? 120
Flyvbjerg et al. (2006) Inaccuracy in traffic forecasts 65
Flyvbjerg (2007) Cost overruns and demand shortfalls in urban rail and other infrastructure 31

 

A pesquisa desenvolvida por Flyvbjerg et al. (2003) investigou a frequência e a magnitude dos custos acima do previsto em projetos de infraestrutura. Para tanto foram analisados 258 projetos em 20 países com valor aproximado de US$ 90 bilhões (em valores reais de 1995) e concluiu, com elevada significância estatística, que os projetos de infraestrutura de transportes não conseguem cumprir as projeções. Como o modelo que foi testado em diversas regiões geográficas e em diferentes períodos, isso indica ser um fenômeno global. Para o transporte ferroviário o aumento médio nos custos é de 45%. Este cenário de aumento nos custos combinado com elevado desvio padrão que traduz em grandes riscos financeiros, entretanto, na visão dos autores, isto tem sido ignorado ou subestimado na tomada de decisão, em detrimento do bem-estar social e econômico.

 

Os mesmos autores, três anos depois, verificaram que a previsão de demanda nos projetos de infraestrutura de transporte é imprecisa. No caso do transporte ferroviário de passageiros nove em cada dez projetos estão superestimados. Para projetos ferroviários em geral as previsões superestimadas correspondem a dois terços dos empreendimentos, a consequência é um elevado risco econômico e financeiro devido ao elevado desvio padrão, que também é ignorado pelos tomadores de decisão. Entretanto, alerta-se para o impacto que previsões de demanda enganosas provocam no risco e no financiamento. Ainda mais, quando se trata de previsões com margem de erro de 50% que estão presentes em projetos de infraestrutura de milhões de dólares. Este comportamento produzirá perdedores entre os financiadores da infraestrutura, sejam os contribuintes ou investidores privados, assim, o risco de previsões defeituosas e avaliação de gerenciamento de riscos devem ser colocadas no centro do planejamento e na tomada de decisão nos projetos para evitar perdas e proteger os investidores (Flyvbjerg et al., 2006).

 

No ano seguinte o mesmo autor, analisa o risco de custos acima do previsto com o risco de demanda, e apresenta evidências empíricas que auxilia na avaliação e gerenciamento de risco econômico e financeiro. Este estudo é válido para projetos ferroviários urbanos e a metodologia desenvolvida pode ser utilizada na política e no planejamento ferroviário urbano (Flyvbjerg, 2007). Quanto a outros riscos inerente aos projetos ferroviários, o estudo de Giesecke et al. (2011) focou no mercado financeiro analisou a taxa de inadimplência das obrigações (bonds) corporativas durante a série histórica de 1866-2008. Os resultados constaram que a inadimplência durante a crise ferroviária de 1873-1875, totalizou 36% do valor nominal dos títulos de todo o mercado sendo foi pior do que a experiência da Grande Depressão nos Estados Unidos.

 

Cervero com três artigos publicados também entrou no ranking dos 20 autores com maior número de publicações na temática financiamento de ferrovias, sendo que, todos esses três trabalhos estão presentes no índice-h 21, e apresentados na Tabela 8. Em que percebe-se que todas as pesquisas estão relacionadas com investimento/financiamento de transportes (ferrovia) e land use.

 

Tabela 8: Artigos publicados por Cervero contidos no índice-h da pesquisa
Autor e Ano Título Citações
Cervero e Landis (1997) Twenty years of the Bay Area Rapid Transit System: land use and development impacts 85
Cervero e Kang (2011) Bus rapid transit impacts on land uses and land values in Seoul, Korea 46
Cervero e Duncan (2002) Transit’s value-added effects – Light and commuter rail services and commercial land values 23

 

O primeiro artigo investigou o BART (Bay Area Rapid Transit), um sistema de transporte público de trânsito rápido sobre trilho, e impacto sobre o uso da terra e o desenvolvimento da região. A pesquisa encontrou poucas mudanças no uso da terra após 20 anos, seja devido à oposição da vizinhança ou em decorrência do mercado imobiliário desaquecido (Cervero; Landis; 1997). Outro estudo apresenta o ônibus de trânsito rápido (BRT) como uma alternativa econômica aos investimentos ferroviários. Um estudo em Seul, na Coréia, apontou que melhorias no transporte de BRT induziu a conversão de residências familiares simples em apartamentos de maior densidade ou condomínios, estimulados pela valoração da terra. Os resultados encontrados, relevantes para a temática financiamento dos transportes, revelam a importância de introduzir o zoneamento e outras mudanças regulatórias de terras antes das melhorias do sistema de transporte (BRT), e que a aplicação de ferramentas de captura de valor pode auxiliar a financiar projetos de infraestrutura (Cervero; Kang, 2011).

 

Na mesma linha de pesquisa, o terceiro trabalho, trata da temática do desenvolvimento orientado para o trânsito como meio de reduzir o congestionamento do tráfego, promover habitação a preços acessíveis e reduzir a expansão, com a concepção de financiamento criativo com os programas de captura de valor (Cervero; Duncan, 2002).  Sobre a captura de valor, outro autor propõe modelos longitudinais capazes de prever aumentos do valor da terra dentro de um intervalo temporal e estimar as receitas capturáveis totais com o propósito de apoiar o financiamento da dívida de projetos de melhoria do trânsito (Smith; Gihring, 2006). Ørestad, em Copenhague, será construída durante 30 anos, e ficará ao redor de estações elevadas de metrô autônomo, sem motorista. A obra está sendo financiada pela captação do aumento do valor da terra através da venda de terrenos públicos ao longo da rota (Knowles, 2012).

 

Sobre os 24 artigos (h-index 21) mais representativos para a temática financiamento de ferrovias percebe-se um pico acentuado no ano de 2007. A Tabela 9, apresenta o autor(es), título, e principal temática abordada de cada um dos cinco artigos publicados no referido ano.

 

Tabela 9: Artigos Publicados no ano de 2007 e pertencentes ao h-index 21
Autor(es) e Ano Título Principal Temática
Rus e Nombela (2007) Is investment in high speed rail socially profitable? Considera variáveis econômicas e sociais para avaliar um projeto ferroviário.
Tsamboulas (2007) A tool for prioritizing multinational transport infrastructure investments Com a globalização faz-se necessário o transporte multimodal. O estudo também analisa a prioridade de transporte e viabilidade econômico-financeira.
Phang (2007) Urban rail transit PPP: Survey and risk assessment of recent strategies PPP como uma possibilidade de financiamento entre setor público e privado.
Flyvbjerg (2007) Cost overruns and demand shortfalls in urban rail and other infrastructure Analisa conjuntamente o risco da demanda e da previsão errônea de custos em projetos ferroviários urbanos.
Litman (2007) Evaluating rail transit benefits: A comment Transporte ferroviário como alternativa para redução dos congestionamentos e o projeto se torna rentável a medida que considera estes impactos econômicos.

 

O transporte ferroviário de alta velocidade incentivado e financiado pela Comissão Europeia é tido como sua solução diante as estradas e aeroportos congestionados. Assim, o projeto não é avaliado somente com base em variáveis econômicas e financeiras, mas também considera no modelo a perspectiva social, ao agregar variáveis como: economia de tempo, crescimento da demanda, considerações estratégicas, efeitos ambientais, desenvolvimento regional, dentre outros. No caso do projeto ferroviário de alta velocidade os benefícios sociais precisam superar os custos de construção, manutenção e operação para justificar o investimento. Entretanto, as decisões de investir não ficam alicerçadas em análises econômicas sólidas, devido a inclusão de variáveis socais que tornam o modelo vago e impreciso (Rus; Nombela, 2007).

 

Em outra linha, Tsamboulas (2007) analisa que com a globalização surge a necessidade de um instrumento que prioriza os investimentos em infraestruturas de transporte localizados em mais de um país e que constituam uma rede de transporte multinacional. O estudo foi aplicado nos 21 países membros da Trans European Motorway and Railway networks. Dentre as variáveis analisadas, tem-se a prioridade de transporte e os recursos financeiros disponíveis, que estão relacionados com a viabilidade econômico-financeira de projetos de dimensões internacionais.

 

A proliferação de parcerias público-privadas (PPP) no transporte ferroviário urbano na América Latina e no Sudeste Asiático é um fenômeno recente que emergiu devido aos elevados custos de investimento nos sistemas de trânsito e motivaram os governos a buscarem cooperação de financiamento com o setor privado. Foram analisadas as abordagens PPP de trânsito ferroviário urbano adotadas em Bancoque (Tailândia), Kuala Lumpur (Malásia), Buenos Aires (Argentina), Rio de Janeiro (Brasil), Singapura, Hong Kong e Londres onde foram descritos e classificados em quatro grandes abordagens: (i) o desenvolvimento de novos sistemas através do Design-Build-Finance-Operate (DBFO), (ii) a concessão de serviços ferroviários e de metrô, (iii) a venda de operadores estatais através da privatização da emissão de ações, e (iv) as PPP para a manutenção e modernização das infraestruturas. Cada modelo apresenta análise de risco e abordagens diferentes, mais detalhes em: Phang (2007). Embora se reconheça que a autossuficiência financeira é um importante auxílio à privatização e que muito poucos metrôs podem ser autofinanciados, mesmo em sistemas com elevados déficits, as DBFOs e as concessões podem ser concebidas de forma a atrair a setor privado para o setor ferroviário. Outra fonte de recursos tem sido proveniente da metodologia de captura da valoração da terra em decorrência de melhorias no sistema de transporte (Cervero; Landis, 1997; Cervero; Duncan, 2002; Cervero; Kang, 2011; Smith; Gihring, 2006). Como o caso de Ørestad, em que as estações elevadas de metrô autônomo têm sido financiadas com a venda de terrenos públicos ao longo do trecho (Knowles, 2012).

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao contrário da tradicional revisão da literatura que peca pela carência de critérios pré-definidos na tomada de decisão (Mariano et al., 2011), a análise bibliométrica mostrou ser uma ferramenta capaz de auxiliar os pesquisadores na busca de trabalhos científicos de forma sistemática e objetiva. Apesar disso é necessário reconhecer algumas limitações deste método (Loureiro et al., 2015). Ressalta-se por exemplo que apesar do método propor etapas a serem seguidas, a experiência do pesquisador também é relevante, principalmente no que se refere a determinação clara do objetivo da pesquisa, a escolha de palavras-chave adequadas a serem inseridas nas ferramentas de busca, bem como a definição critérios de inclusão e exclusão dos trabalhos.

Este artigo demonstrou que a relação entre a quantidade de publicações de um autor, periódico, universidade ou mesmo país, não está, necessariamente, correlacionada com a relevância que a comunidade científica atribui aos mesmos autores, periódicos, universidades, ou países, por meio do índice-h. Como, exemplo desse fenômeno, a China figura em 3º lugar na publicação científica no WoS na temática afim ao financiamento de ferrovias, com 78 publicações, contudo, apenas dois autores vinculados a universidades chineses estão relacionados entre os autores do índice-h nessa temática. Os EUA, ao contrário, estão bem posicionados tanto em qualidade, aferida pelo índice-h visto que metade dos 10 mais relevantes autores está vinculada a universidades americanas, quanto em quantidade uma vez que figuram em primeiro lugar mundialmente, com 125 publicações.

Quatro periódicos são representativos para a temática, são eles: Transport Policy, Transportation Research Part A-Policy and Practice, Transport Reviews e Transportation  que publicaram metade dos trabalhos sobre financimanto ferroviário segundo o índice-h. Entre estes, apenas a revista Transportation Research Part A-Policy and Practice possui, no Brasil, classificação Qualis. Sendo, A1 e A2 para as áreas de Engenharias I e Economia, respectivamente, no ano de 2014. Quanto aos autores, Flyvbjerg e Cervero se destacam em publicações de impacto dentro da temática financiamento de transportes, onde cada pesquisador possui três artigos dentro do h-index 21 (Cervero; Landis, 1997; Cervero; Duncan, 2002; Cervero; Kang, 2011; Flyvbjerg et al., 2003, 2006; Flyvbjerg, 2007).

Esta pesquisa contribuiu para sistematização da literatura a respeito do transporte ferroviário mundial. As principais descobertas foram: (i) os projetos de ferrovia são dramaticamente prejudicados em função da previsão imprecisa de demanda e da incoerência de execução orçamentária do projeto, concorrendo para afastar futuros patrocinadores de projetos ferroviários (Flyvbjerg et al., 2003, 2006; Flyvbjerg, 2007); (ii) as parcerias público-privadas (PPP) estão presentes vigorosamente nos projetos de ferrovias(Phang; 2007) e; (iii) Outra importante fonte de recursos para as ferrovias é a captura da valoração da terra em decorrência de melhorias no sistema de transporte (Cervero; Landis, 1997; Cervero; Duncan, 2002; Cervero; Kang, 2011; Smith; Gihring, 2006) como o caso de Ørestad, em que as estações elevadas de metrô autônomo têm sido financiadas com a venda de terrenos públicos ao longo do trecho (Knowles, 2012).

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FapDF) pelo apoio financeiro para a participação e apresentação deste artigo no XXXI Congresso Nacional de Ensino e Pesquisa em Transportes da ANPET.

 

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